PLURAL: o bom da rua

Redação do Diário

A coluna Plural desta sexta-feira (27) traz os textos de Atílio Alencar e Luiz Gonzaga Binato de Almeida sobre o tema Cultura e patrimônio. Os textos da Plural são publicados diariamente na edição impressa do Diário de Santa Maria. A Plural conta com 24 colunistas

Atílio AlencarProdutor cultural

É fascinante como uma rua ou qualquer outro tipo de espaço público ganham vida com a realização de eventos. Sempre tive a impressão, que confirmo a cada nova experiência, de que muitas questões relacionadas à fruição da cidade se resolvem na vivacidade dos encontros coletivos. E nisso eu incluo a segurança pública, um tema sempre alarmante quando nos deparamos com as estatísticas de violência urbana. Obviamente, não pretendo fazer aqui nenhuma afirmação leviana, associando de modo automático a diversão à solução de um problema social tão preocupante. Mas, em termos tendenciais, onde há gente circulando, brincando, ocupando o vácuo das praças e parques, observando e sendo observada, cria-se uma atmosfera comunitária mais segura do que os passeios solitários pelas vias muitas vezes mal-iluminadas da noite santa-mariense.

Isso vale para eventos já consagrados como a Feira do Livro, o Brique da Vila Belga e, também, para a Batalha dos Bombeiros, um concurso de rimas organizado pelo coletivo CoRap há anos na Praça Menna Barreto, conhecida popularmente como Praça dos Bombeiros. Lugares que, em determinados horários, são evitados pelo risco do transeunte ser vítima de assalto ou outra forma de constrangimento, vêem-se transformados em zonas de convívio e de oportunidades criativas, envolvendo a população de modo espontâneo em outras formas de sociabilidade. É o caso do trecho do Parque Itaimbé onde está localizado o Bar do Pompeo, que funciona como um posto civilizatório no deserto noturno da região. Quem duvida, que pergunte à vizinhança. Quando o bar está com as portas abertas e as mesas dispostas ao largo, o parque se ilumina e transmite uma sensação de acolhimento para quem passa por ali. Agora, experimente andar à noite na direção contrária: afastando-se do oásis que o Bar do Pompeo oferece, o que resta ao longo do Itaimbé são, literalmente, trevas e abandono.

Esse é um dos motivos pelos quais, penso eu, eventos públicos, feiras, shows, bares de calçada etc deveriam ser incentivados como política social, econômica e cultural pelos órgãos administrativos de Santa Maria. Imaginem se o Calçadão, que hoje atravessa uma fase de remodelação, ganhasse vida noturna, com bares, restaurantes, cinemas e outros empreendimentos que estendessem o funcionamento noite adentro. No mínimo, ganharíamos mais vida noturna na cidade, o que me parece digno de lugares que concentram um alto potencial econômico no setor de entretenimento e lazer, como é o nosso caso. E, como bônus, reconquistaríamos o direito de trafegar por um espaço que hoje, depois de certa hora, se converte em uma via não muito confiável para o passeio.

Acredito que quanto mais a vida acontece na rua, melhor é a qualidade da nossa relação com a cidade em que vivemos. E o que não nos falta são ruas, praças e parques precisando de vida nova.

Leia o texto de Luiz Gonzaga Binato de Almeida

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